sábado, 30 de maio de 2009

Maria Madalena

 
A terra engasgou se em ti,
não conseguiu comer te e cuspiu
aflita, uma dança de igreja profana.
Vestida, pele confusa de vermelho,
mostraste o travo a tudo da saudade
curvada na esquina de quem te encontrou.
Muda de mão o pincel que lhe cuidou
a barba e o cabelo comprido e
ajeita lhe o quadro que segregou
o vinho e o alimento.
Dorme nas tardes de sombra
e nas linhas cruzadas que ele partiu.
Não deixes escorregar a lágrima que 
segura o reflexo do teu rosto
nos olhos de quem te sorriu.  

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Ideia das 22:04

Queria falar de mim mas tenho medo de te descrever.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Uma noção de outra noção minha

Sou a mão, independente de mim

Que enrola o desejo na tua carne

Que te expõe as tuas necessidade primitivas.

Que te espanca a mente com umas simples palavras

Que te complica a liberdade dos movimentos

Que te levanta, senta, deita, vira, vira, vira..

Que te convence que a única razão para a tua vida é procriar.

Calma…Eu faço o com classe.

Fui construído no pecado e para o pecado, por isso, o que pensas que vais construir comigo?

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Incêndio

A calçada perde o jeito para sorrir

Os becos sussurram te, não grites mais

Os Bêbedos levantam se, afastam colo dos candeeiros

A taberna “volta logo” em grafia de esquecimento

Lutas ganhas sem o golpe do teu sangue

 

Os amantes cessam a dor do teu vinho

As putas deixam de beber as ruas

Paredes caídas por não ouvirem o choro das suas confissões

 

Vais arder, Lisboa.

 

O incêndio começa no peito de quem te criou

As chamas levam te a terna velhice

As cinzas fecundam a distancia.

 

Chora porque a sentis te.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Foi deste abril que me trouxeste.

Foi deste abril que me trouxeste. Um abril em cimento, de linhas brancas que assassinam o chão e que ditam verticalmente aos carros como estacionar, um abril alto que se esconde por detrás de luzes domésticas. No riso de nuvens que saí da tua boca eu desenhei um afecto imposto, tinha a forma circular dos meus devaneios e era recortado nas margens por um amanhã ausente. Maltrata me o frio deste abril que me manda curar os hematomas com quantidades de algodão do armário, maltrata te o frio deste abril que te ensinou a andar dois passos até a minha presença física. Os teus braços viam qualquer estrela lá em cima e julgava que a ias agarrar e leva la para casa para disfarçar o escuro grotesco do teu quarto. De repente, entra me um cerco incomodado de hábitos esquecidos de significado, um grito algemado de vozes renascidas. De repente, os teus braços convencem se nas minhas costas e a tua cabeça ausculta me os batimentos cardíacos. Um abraço que ainda não foi sujo pelo egoísmo das palavras, vem até mim.

 

Faço o sinal da cruz e agradeço este abril que me trouxeste